Ela era gorda, cabelo cacheado e alta. Demorou mas aprendeu que nenhum homem se interessaria por ela naquele estado.
Tentou de tudo pra emagrecer, dietas do alfabeto, do chá, da linhaça, enfim de tudo que aparecia. Emagreceu cerca de 15 quilos em um mês, e acreditou que valeu o sacrifício. Não valeu.
Ela continuava indesejável. Depressão. Ganhou 20 quilos. Tentou se matar. Nem isso conseguiu.
Estava indignada com a vida. Não saia há muito tempo com os amigos. Não ia mais no mar, nem na piscina. Seus pais ainda não haviam percebido mas no seu olhar havia muito mais do que devia haver.
Ela sempre estava calada, triste, irritada.
Há muito não se apaixonava, há muito não olhava no espelho, não subia em balanças.
Mas, como sempre há, havia apenas uma pessoa que plantava um sorriso em seu olhar.
E ela se perguntava se aquilo era mesmo verdade. Se era mais uma de suas ilusões. Se aquilo era mesmo uma atenção especial, uma paixão.
E era. Mas aí outras perguntas surgiram. E ela perguntou a ele:
_Porque eu?
Ele disse:
_ Porque eu descobri nos teus olhos o medo que eu tinha da vida, descobri a incerteza, a revolta com o corpo, descobri o não olhar no espelho, a falta de amor próprio e quis curar a tua doença. Você é linda, corpo não é tudo. Eu te amo.
Ela ia acreditando, até o dia que soube do caso dele com aquela sua amiga ex-modelo da vogue.
Enfim ela conseguiu o que a muito desejava. Está morta mas só assim encontrou o amor que buscava. E está com ele. Se jogou no mar e não foi rejeitada. O mar é agora seu lar, seu amor, seu marido.
Ana Manfredini
Ps: Ele? Gostaria de informar que ele aprendeu algo. Mas não aprendeu. Ele nem ao menos soube da sua morte. Sentiu falta das suas mensagens mas nunca procurou por ela.
"Mesmo sendo falso o ar, ela sentia respirar. Hoje respira água, e está feliz. Não há como negar".
Mariana Diniz
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