Eis que trago a público mas uma proeza do meu querido amigo Lucas Martins, um cara que além de escrever bem, também toca muito. Esse romance é baseado na música: Quer Saber - Henrique Cerqueira. Espero que gostem. Beijos!!!
Eram quase dez da noite quando os pés de Eduardo pisaram a grama da esquina que dava para a casa de Ana. Seus passos eram inconstantes: ora estavam apressados demais, ora paravam no meio do caminho, encarando o nervosismo. Tomou coragem e andou até chegar ao pequeno muro que delimita o quintal, de onde se podia ver claramente o quarto de sua amada no primeiro andar da casa. Encostou-se ao portão e tirou o celular do bolso. Suas mãos estavam suando frio e seu coração acelerou a batida. Discou o primeiro número dela e o apagou. Respirou fundo e tentou novamente, parando nos quatro primeiros dígitos. Consciente de que não conseguiria sozinho, Eduardo pediu a Deus coragem para dizer tudo aquilo que estava trancado em seu peito. Olhou rapidamente o céu e depois para o quarto bem acima dele. Percebeu a luz acesa e então a coragem desceu do céu e suas mãos trêmulas discaram o número certo. Ana estava escovando os dentes, já com roupa de dormir, quando ouviu seu celular tocar. Enxugou as mãos, normalmente se dirigiu até a escrivaninha e quase não acreditou que era Eduardo. Pensou alto:
- Por que você tem que tornar as coisas ainda mais complicadas para mim e para você, Edu?
Ana respirou fundo antes de atender a ligação, enquanto Eduardo expirava e inspirava a cada segundo. Com voz trêmula, Ana pronunciou:
- Oi, Edu!
- Oi, amor! – Edu respondeu com um sorriso tímido e depois se lembrou que a situação havia mudado – Eu sei que já não faz nenhum sentido eu te chamar de amor, tá. Me perdoa, é que eu não consigo evitar! – coçou o cabelo e então continuou – Sabe, amor, minha mão discou teu número. Foi sem querer...
- Edu, a gente já conversou sobre isso... Acabou! – ela completou, sentada na cama, com os olhos cheios de lágrimas.
- Se acabou, diz pra mim o que é que eu faço pra acabar com essa dor! Olha, eu já rasguei o seu retrato, mas nada adiantou! Eu ainda guardo na minha memória mil imagens de nós dois!
- Edu... – pronunciou nervosa, dirigindo-se a janela.
- E os versos que escrevemos de uma história de amor sem fim? – levantou os olhos e avistou a sua amada na janela – Você virou a pagina e se esqueceu de consultar a mim!
Edu parou de falar por um certo tempo e ficou observando Ana. Esta, por sua vez, encostou seu cotovelo na janela, apoiou o queixo na mão, olhou para o céu e deixou uma lágrima escapar. O coração de Edu quase saiu pela boca quando viu a cena. Então, olhou para o céu e enchendo-se de coragem do alto, disse:
- Quer saber de uma coisa? Antes de te ligar, pedi a Deus coragem para te dizer tudo o que sinto. – enquanto falava, caminhava em direção a porta – Quer saber? Não foi apenas por acaso, não. Eu te liguei foi mesmo por querer e se a nossa história fosse nada, você nem ia me atender! E quer saber ainda? Desliga o telefone porque agora eu tô aqui na porta pra te ver!
Ana parou por um segundo, olhou pela janela e avistou Edu parado na porta, com o celular na mão. Enxugou as lágrimas e correu ao seu encontro. Em seguida, Edu levantou os olhos para a janela e percebeu que sua amada já não estava mais lá. Percebeu também que a luz do quarto estava apagada e deduziu que a moça estava a caminho da porta. Desesperou-se e o nervosismo tomou conta do seu corpo.
- Ai, meu Deus! Ela tá chegando! – levou a mão à cabeça e começou a coçar o cabelo, bagunçando-o. – Ela deve estar descendo as escadas! Meu Deus... O que eu vou dizer? – agora começou a andar de um lado para outro, com os nervos a flor da pele e as mãos suando frias – A barba tá feita, o cabelo... O cabelo tá horrível! – tentou desfazer a bagunça que fizera. – Ai, que frio na barriga! Era só o que faltava... Meu Deus! Me ajuda, Senhor! Que seja feita a tua vontade!
Nesse momento, Edu colocou as mãos para trás ao ver a porta se abrir e sorriu tentando disfarçar o nervosismo. Ana olhou-o tristemente, temendo o que aconteceria depois e só disse apenas uma palavra.
_ Oi!
_ Oi, amor! – Lembrou-se de que havia errado novamente. – Me perdoa! Eu... Eu sei que você pensa que já não faz nenhum sentido eu te chamar de amor! É que eu não consigo evitar, sabe? – Gaguejava muito. – Eu tava tão acostumado a passar por aqui!
_ Edu... Eu...
_ É bom te ver! – Falou sem perder tempo para que ela não falasse o que ele não queria ouvir. – Você tá tão bonita... Esse pijama não fui eu quem te deu? – Ana estava encostada na porta apenas escutando e controlando suas emoções. – Eu tava querendo ler os meus livros, você se esqueceu? E a minha mãe? Mandou mil beijos de saudades!
_ Se você quiser que eu vá procurar seus livros, eu...
_ Sinceramente! Ainda tenho muita coisa tua que eu não tô nem afim de devolver... – Aproximou-se e sorriu ao lembrar. – Ah... São tantos segredos, momentos lindos... E aquela briga, você lembra? – Ana sorriu timidamente, deixando escapar uma lágrima. – Nada era só meu, nada era só seu! Era tesouro nosso! Não entendo como é que depois de tudo isso você diz que é capaz de se esquecer...
Ana enxugou a lágrima enquanto outra caía no outro olho. Edu falava mansamente e com os olhos cheios de lágrimas. Parou por um segundo e observou a ex-namorada chorando encostada na porta. Olhou para o céu e enchendo-se novamente de coragem, continuou:
_ Quer saber? Eu sei que é uma loucura, uma loucura mesmo, mas... Me dá uma proposta! – Olhou-a com todo o amor que tinha. – Sabe, se não houvesse esperança, você nem teria aberto essa porta! E saiba que... Que dos presentes que eu te dei, meu coração eu não aceito de volta! – Seus olhos transmitiram todo o amor que estava trancado no peito e ele deixou uma lágrima singela cair. Lutando com suas emoções, Ana também chorara. – Quer mesmo saber, amor? Vem aqui! Me dá um beijo, porque... O teu olhar já me deu a resposta!
Ana finalmente se permitiu sorrir de verdade e pulou nos braços de Eduardo! Os dois se abraçaram forte, choraram e então trocaram um sincero beijo, que ficara registrado pela intensa luz da lua e pelos olhos de Deus!
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