terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Comentando I: Casório - Marian Keyes

Postado por Mariana às 15:25
                                     É muito díficil conseguir encontrar alguém que descreva tão bem as loucuras da mulher moderna como Marian Keyes. Essa autora irlandesa tem um jeito de escrever muito especial, parece até que seus personagens são amigos nossos e que nós fazemos parte da história.  Eu comecei a ler Casório por pura ocasião do destino e realmente me apaixonei. A Lucy (protagonista) é tão louca e insegura quanto eu. Pra poder mostrar o motivo da minha paixão eu trago pra vocês um comentário meu com alguns trechos do livro. 


                                           Como já mencionei a Lucy é tão insegura quanto eu. Trouxe essa parte do livro pra mostrar o quão louca pode ser uma mulher insegura. Neste fragmento Lucy diz o porque detesta o primeiro namorado que ela nos apresenta no livro. 
                                   Nenhuma das minhas amigas conseguiu entender o motivo de eu ter terminado com ele. “Mas ele era tão legal!”, era uma das frases que todas diziam. “Mas ele era tão bom para você...” era outra. “Ele é um tremendo partido!”, protestavam todas. Diante disso, eu replicava: “Não, não é. Um tremendo partido não é assim tão fácil de conseguir.” Ele me desapontara.
                              Eu esperava desrespeito, e em vez disso consegui dedicação. Esperava infidelidade, e em vez disso consegui um compromisso. Esperava uma relação tumultuada, e em vez disso consegui uma relação previsível. Além de tudo (e esse era o maior desapontamento de todos), eu esperava um lobo e acabei com um cordeiro. Sei que é desagradável quando o cara legal de quem você tanto gosta demonstra ser um canalha completo, mentiroso e com duas caras. Mas é quase tão mau quando o cara que você pensava ser um galinha em quem não se pode confiar prova que é, na verdade, um sujeito descomplicado e legal.
                                Passei uns dois dias tentando descobrir por que eu gostava dos caras que não eram bons para mim. Por que eu não conseguia gostar dos que eram? Será que eu ia sempre desprezar todos os homens que me tratassem bem? Será que era o meu destino querer apenas os homens que não me quisessem? Acordei no meio da noite, me perguntando a respeito do meu amor-próprio. Por que eu só me sentia confortável quando me tratavam mal?
                                Foi quando entendi que a frase “mulher gosta de apanhar” já rolava ha centenas de anos, e então relaxei — afinal, não fui eu que fiz as regras. E daí se o meu homem ideal era um sujeito egoísta, confiável, infiel, leal, traidor, traiçoeiro, um paquerador adorável que me achava o máximo, nunca ligava na hora em que combinava, fazia me sentir a mulher mais especial de todo o universo e tentava ganhar todas as minhas amigas? Era minha culpa que eu quisesse um namorado tipo “metamorfose ambulante”, um homem que fosse várias coisas conflitantes ao mesmo tempo?
                                     A Lucy, tem um amigo que todo mundo acha "o cara", Daniel, menos ela é claro. Ele é certinho demais. Seu pior defeito? É que ele é seu amigo. Bom... Até certa parte... [eles chegam a se beijar (quando a Lucy estava bêbada)]
                                   De um lado, lá estava eu, imaginei, de forma teatral. Confusa, vulnerável, carente, uma criança recém-saída de um lar destroçado, pronta para se apaixonar pela primeira pessoa que lhe oferecesse um pouco de afeto.
                                  Do outro, estava Daniel. Um homem habituado a muito sexo, e que já não transava há alguns dias. Devido a isso, naturalmente, ele não era muito exigente a respeito de quem agarrar. Eu estava bem ali... e ele me agarrou.Viu só? Uma prova de que ele era pouco exigente.
                                     Além do mais, Daniel era um homem que adorava um desafio. O que Karen me revelara aos gritos na noite de domingo serviu para confirmar o que eu sempre soube: Daniel era capaz de tentar agarrar a própria mãe se sentisse que ela ia reagir e brigar com vontade.  Mas não vou sucumbir, pensei, com ar sombrio.
                                Pelo menos naquela vez eu ia resistir ao impulso autodestrutivo. Não ia me interessar por Daniel. Ia bancar a diferente.
                              Assim que abri a porta da frente para ele, minha resolução de não me interessar por ele fraquejou, depois se dissolveu. Ele estava lindo, muito atraente, o que foi uma espécie de choque desagradável. Como era possível ele me parecer tão sexy de uma hora para outra? Ele jamais conseguira passar essa impressão antes. Pelo menos não para mim. Para meu grande desapontamento, me comportei de forma assanhada, parecendo uma garotinha tímida, rindo feito uma idiota.
Assim que termina com o primeiro namorado (o do primeiro trecho), a Lu encontra "o tipo certo de cara errado", o Gus. O tempo que eles passam juntos, assim como a maioria dos romances reais, não acrescenta muito na história mas esse trecho é incrível. (eu sou do mal)
                                     — O que quer dizer com isso, Lucy?
                                      — Quero dizer, em uma linguagem que você vai compreender melhor — e fiz uma pausa para dar mais impacto, quase colando meu rosto no dele —, VÁ SE FODER, GUS!
                                          Nossa amiga Lucy entra em um processo de negação de sentimentos, algo comum quando você está se apaixonando por seu melhor amigo. 

                                  Eu já não sabia se estava a salvo com Daniel porque ele me deixava fora de perigo ou se eu estava me colocando em um perigo ainda mais mortal por ficar perto demais dele. Entre os prós e os contras, achei que era mais seguro com ele do que sem ele. E mantinha as barreiras levantadas simplesmente lembrando a ele que elas continuavam lá. Estava tudo bem, permanecer em companhia dele, desde que eu lembrasse a nós dois, o tempo todo, que isso não era legal. Ou algo desse tipo. No fundo, era mais fácil nem pensar nessas coisas. De vez em quando eu me lembrava da noite em que ele tinha me beijado, e ficava mais do que feliz, ficava até mesmo empolgada só de lembrar cada um dos detalhes daquele momento. Porém, sempre que eu recordava aquela cena — e, para falar a verdade, isso era muito raro —, na mesma hora, mais do que depressa, eu lembrava também da outra noite em que ele não quis me beijar, e a sensação de vergonha que se seguia a essa lembrança colocava um ponto final na parte boa, no mesmo instante. Enfim, Daniel e eu acabamos voltando à nossa velha fase, e ficamos tão relaxados um com o outro, tão à vontade, que já conseguíamos rir juntos do nosso rápido contato romântico/sexual.
                                  Outro trecho que comprova minha teoria.

                             O pânico começou a surgir de novo. Ele já estava sem namorada há muito tempo, e aquilo não podia continuar para sempre. Ia acabar acontecendo, ele ia encontrar alguma garota legal, em algum momento. Mas... se ele começasse a sair com alguém, o que ia acontecer comigo? Como é que eu ia me encaixar na vida dele? O que estava acontecendo?, perguntei a mim mesma, cheia de medo. Eu estava agindo como se estivesse com ciúmes, como se... como se... como se eu gostasse de Daniel. Não, não, não queria nem pensar! NÃO IA PENSAR NAQUILO, quase berrei, bem alto.
                             Partimos pra parte da aceitação. Agora o medo toma conta pois ninguém conhece tão bem o Daniel quanto a Lucy. Ela já viu muita mulher chorar pelo amor dele. Ela sabe o quanto ele é galinha. Só não sabe os seus motivos pra ser assim.
                              Estava em estado de choque. Acabara de descobrir que estava apaixonada por Daniel. Mal podia acreditar na minha estupidez, sem mencionar a minha falta de mancômetro. Suspeitara, por algum tempo, que gostava dele. Deixar aquilo passar já fora muito descuido. Mas estar apaixonada por ele, apaixonada, e não ter me dado conta disso já era negligência criminal. E pensar no quanto eu gargalhara ao ver todas as mulheres que haviam se apaixonado por ele no decorrer dos anos. Mal sabia que um dia aquilo ia acontecer comigo. Sem dúvida, havia alguma grande lição a ser aprendida daquilo: “Não zoe os outros para não ser zoada”, ou algo assim. Não conseguia raciocinar direito, porque as fisgadas provocadas pelas lágrimas de ciúme estavam me colocando em estado de demência. Pior do que o ciúme era o medo de que eu tivesse perdido Daniel para sempre. Já fazia tanto tempo que ele não saía com ninguém que eu começara a pensar nele como propriedade minha. Grande erro. Então, fiz a coisa mais idiota que poderia fazer: liguei para ele. Ele era a única pessoa que ia conseguir me confortar e aplacar a minha dor, mesmo tendo sido a mesma pessoa que a causara. Aquilo era uma atitude estranha, chorar no ombro de um amigo por causa de um coração partido, quando a pessoa no ombro de quem eu estava chorando era, na verdade, a mesma pessoa que fizera o estrago. Mas eu jamais conseguia fazer as coisas do jeito normal mesmo. 
                                          Tenho certeza que toda mulher já teve essa conversa com seus botões. (A Marian Keyes arrebenta.) 
                                          “Você sabe que a última coisa que uma mulher deve dizer para o homem que ama é que ela o ama!”, cantava o coro na minha cabeça, e clamava: “Especialmente quando ele não está apaixonado por você.
                                           — Eu sei! — reagi, desesperada. — Mas é diferente, comigo e com Daniel. Ele é meu amigo, ele vai me tirar dessa. Vai me lembrar do quanto ele é terrível com as namoradas.
                                            “Procure outra pessoa com quem desabafar”, cantava o coro grego. “O mundo está cheio de gente, por que contar logo para ele?”
                                            — Ele vai me livrar da dor, vai fazer com que eu me sinta melhor. “Mas...” Ele é o único capaz disso — disse, com firmeza e determinação. “Você não nos engana...”, cantou o coro. “Sabemos que você está aprontando alguma.”
                                            — Calem a boca, não estou, não — protestei.
                                            Eu conhecia bem aquela história vitoriana. “Ele não pode descobrir, jamais, o quanto o amo, pois não suportaria que ele sentisse pena de mim.” Especialmente se o cara não fosse muito legal, começasse a rir do caso e contasse a história toda aos amigos, quando eles saíssem para caçar gansos. Mas nada daquilo se aplicava a mim, decidi. Não precisava manter a dignidade com Daniel.
                                           Pra mim esse é o melhor dialogo do livro. Ele nos remete aos motivos (ou melhor o motivo) de Daniel não conseguir ficar com apenas uma namorada, mostra o ciúme da Lucy em relação a suposta nova namorada do Daniel e prova que homens também são inseguros às vezes. 
                                        — Então você não está saindo com a Sascha? — perguntei.
                                        — Não.
                                        — E por que não está?
                                       — Achei que não seria certo sair com ela sabendo que estou apaixonado por você.
                                Meu cérebro entrou em estado de choque. As palavras chegaram muito antes dos sentimentos.
                                      — Oh... — disse eu, surpresa.
                                      Não conseguia achar nada para dizer. Para mim já teria sido bom o bastante se ele dissesse que gostava de mim. Nossa, isso era demais!
                                     — Eu não devia ter dito isso. — Daniel pareceu arrasado.
                                     — Por que não? Não é verdade?
                                 — É claro que é verdade! Não saio por aí dizendo para um monte de mulheres, a torto e a direito, que estou apaixonado por elas. Só que não quero deixar você assustada. Por favor, Lucy, esqueça o que falei.
                                 — Não esqueço não — disse, irritada. — Essa é a coisa mais legal que alguém já falou para mim.
                                — É mesmo? — perguntou ele, esperançoso. — Quer dizer que você também...
                                — Sim, sim... — E abanei a mão, distraída. Queria um tempinho para me concentrar no que ele me dissera. Não podia ficar dando atenção a ele.
                               — Eu amo você também — acrescentei. — Acho que o amo há séculos.
                               Felicidade e alívio começaram a me formigar por dentro, aumentando de intensidade até se transformar em um fluxo constante, para finalmente jorrar como se estivesse escorrendo por um cano quebrado. Mas eu precisava ter certeza.
                               — Você está mesmo apaixonado por mim? — perguntei, meio desconfiada.
                               — Ai, meu Deus, estou!
                               — Desde quando?
                               — Há muito tempo.
                               — Desde a época do Gus?
                               — Desde muito antes do Gus.
                               — E por que você nunca me contou isso?
                               — Porque você ia se acabar de tanto rir, ia me zoar, me humilhar e...
                               — Eu não faria isso — repliquei, ofendida.
                               — Ah, faria sim.
                               — Faria?
                               — Sim, Lucy.
                       — É... talvez fizesse mesmo— concordei, relutante. —Puxa, desculpe, Daniel— precisava me desculpar muito com ele —, mas eu tinha que ser má e implicante com você, porque você é atraente demais! E isso é um elogio — acrescentei.
                       — Sério? — perguntou ele. — Mas todos os caras com quem você saía eram completamente diferentes de mim. Como é que eu podia competir com um cara como o Gus?
                               
                                            O final não podia ser mais perfeito:
                              Daniel jura que me ama. Certamente ele age como se estivesse falando sério. E, sabem de uma coisa, estou quase acreditando nele. De uma coisa estou certa: eu amo Daniel.







Ps: Pode até ser meio clichê mas garanto que é impossível uma descrição melhor de um romance entre amigos.
Ps2: Sim, eu censurei as putarias.

1 comentários:

Yashmin Cuesta disse...

Um dos melhores livros q eu li e graças a mariana q me emprestou *---*

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